Começamos com o mais importante evento astronómico do ano, visível de Portugal, que por coincidência ocorre exatamente no dia de Portugal, dia 10 de junho – um eclipse do Sol.
Este é um eclipse anular, pois a órbita elíptica da Lua coloca-a ligeiramente mais distante da Terra do que a média quando Sol, Lua e Terra ficam alinhados. Por isso não consegue tapar completamente o disco solar e provocar um eclipse total, ficando um anel de Sol visível à volta da Lua. E isto seria o que poderiam ver… se estivessem perto do polo Norte!
Infelizmente, aqui em Portugal o cenário não vai ser tão favorável. O eclipse será observado apenas como parcial, com a porção da nossa estrela a ser tapada pela Lua a ser tanto maior, quando mais para o Norte e para o litoral estiverem.
O pior local de observação em Portugal será em Vila Real de Santo António, com apenas 3,5% do Sol tapado, enquanto o melhor em Portugal Continental será Valença, com 11,1% da nossa estrela às escuras. Na Madeira o obscurecimento será semelhante ao observado em Beja e Évora, cerca de 5%. Nos Açores serão brindados com um Sol um pouco mais tapado, desde os 20% em Santa Maria até mais de 30% nas Flores e no Corvo.
No Continente o fenómeno começa pouco depois das 08h45, com o máximo a ocorrer por volta das 9h30, enquanto na Madeira começa por volta das 8h30. Nos Açores, começa pouco antes das 08h30 (hora dos Açores).
Para fechar este capítulo dos eclipses, não é demais relembrar: NUNCA olhem diretamente para o Sol. A queimadura provocada pela intensa radiação solar não causa dor, mas a cegueira que provoca é permanente. Óculos escuros, radiografias, a maioria dos vidros de soldador, entre outros filtros “caseiros”, não oferecem proteção suficiente aos olhos. Se quiserem observar o eclipse tentem junto de centros de ciência da vossa área que possam promover a observação, ou comprem filtros solares em lojas especializadas de astronomia.
Como os eclipses do Sol ocorrem sempre na fase de lua nova, naturalmente que no dia 10 de junho a Lua está nesta fase. Dois dias depois a Lua passa a 5 graus do planeta Vénus, que agora aparece como “estrela” da tarde – é aquele pontinho luminoso, que parece uma superestrela, visível para poente logo que o Sol passa abaixo do horizonte.
No dia 13 a Lua passa a apenas 2 graus do planeta Marte e no dia 18 atinge a fase de quarto crescente.
No dia 21 ocorre o solstício. Este é o dia em que o Sol vai estar mais tempo acima do horizonte e na sua passagem a sul o vemos mais alto. Oficialmente este é o dia do início do verão no hemisfério Norte.
Dia 24 há lua cheia no céu. Já no dia 27, um minguante ainda bastante brilhante passa a apenas 6 graus do planeta Saturno. Nessa madrugada, por volta das 04h47, podem observar Júpiter, Saturno, a Lua e a passagem da estação espacial internacional (ISS) debaixo destes três objetos do Sistema Solar. A essa hora a ISS começa a ser visível a Sul, mesmo por baixo da Lua, atingindo uma altura máxima de 30 graus quando está a passar a Sudeste e põe-se às 4h54, a ENE.
Como a Lua move-se pouco mais de um punho no céu a cada dia (à distância de um braço esticado, um punho fechado ocupa cerca de 10 graus no céu), no dia 28 está praticamente a meio entre os planetas Júpiter e Saturno.
Boas observações.
Ricardo Cardoso Reis (Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)
Figura 1: Simulação da visibilidade do eclipse parcial, de diferentes regiões do território nacional. (Imagem: Ricardo Cardoso Reis /Stellarium)
Figura 2: O céu virado a Sul, às 04h47 do dia 27 de junho de 2021, com indicação do trajeto da Estação Espacial Internacional (ISS), a passar debaixo da Lua e dos planetas Saturno e Júpiter. (Imagem: Ricardo Cardoso Reis /Stellarium)
Ricardo Cardoso Reis é licenciado em Astronomia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Atualmente está a completar o mestrado em Ensino e Divulgação das Ciências, também pela FCUP. Trabalha há mais de 20 anos em comunicação de ciência, na promoção da cultura científica e em educação não-formal. Atualmente pertence ao Grupo de Comunicação de Ciência do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, a maior unidade nacional de investigação da área, e ao Planetário do Porto - Centro Ciência Viva, o maior planetário digital em Portugal. É sócio efetivo da Sociedade Portuguesa de Astronomia, da associação Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e da Rede SciComPT, tendo pertencido aos orgão sociais desta última no triénio 2017-2020.
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