Habitado desde o Neolítico, o Planalto da Mourela é um jardim perfumado. Plantado a cerca de 1.200 metros de altitude, na parte oriental da serra do Gerês, este pedaço natural do concelho de Montalegre oferece sensações de cortar o fôlego. Com o cabelo ao vento podemos povoar o imaginário a observar o galope do cavalo garrano, o chilrear de pássaros incomuns e o brotar da água cristalina dos regatos. Um chão de cheiros que provoca encanto. Arrebatador pelo abraço da montanha e por um céu que não se esquece.
É uma das portas de entrada do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) - único parque nacional de Portugal - e reserva da biosfera Gerês-Xurês. O Planalto da Mourela é um dos mais notáveis encantos do concelho de Montalegre, espalhado pelas sete aldeias que o envolve (Covelães, Outeiro, Paredes do Rio, Pitões das Júnias, Tourém, Travassos e Sezelhe). Uma portentosa diversidade de recursos naturais e culturais. A invulgar paisagem que alberga está diretamente relacionada com a presença humana e a sua interação com o meio ambiente. A diversidade do horizonte - com as zonas de cultivo ainda em utilização à volta das aldeias já mencionadas - contrasta com as zonas encharcadas das turfeiras, onde florescem as bolas-de-algodão ou os matos das áreas mais planas, ocupados pelas cores das giestas e das urzes.
A rudeza dos números não deixa dúvidas. Falamos de uma área natural onde desfilam mais de dois mil animais, grande parte bovinos. Nos sete baldios do PNPG, situados na zona da Mourela, vivem pouco mais de 600 pessoas. Por via disto, o íntimo entre a criação de gado e as tradicionais práticas agrícolas, resulta num legado muito importante na conservação da paisagem natural desta região. Não estranha ser um repositório vivo das práticas associadas aos sistemas agrários tradicionais, onde as técnicas de gestão e de maneio do território se têm perpetuado ao longo do tempo e continuam a marcar o quotidiano das populações e da paisagem.
Este encanto do concelho de Montalegre é sedutor. A ponto de ter conquistado a Europa, em 2016, ao vencer o prémio da União Europeia para o Património Cultural / Prémio Europa Nostra 2016, na categoria Educação, Formação e Sensibilização. Esta escolha reflete não só os bons resultados do processo – desde a sua implementação, em 2009, os incêndios florestais nesta área diminuíram 80% – como a sua continuidade. A iniciativa foi inicialmente apoiada com uma EEA Grant, financiada pela Noruega, a Islândia e o Liechtenstein no âmbito do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu. A verba esgotou-se em 2011, mas, de então para cá, a iniciativa continua, mantida pelas associações de baldios do PNPG.
Neste encalço, há o turismo. Foi criado um Centro Interpretativo para visitantes, numa antiga casa florestal, às portas de Pitões das Júnias. Dali parte um conjunto de cinco trilhos para caminhada, pensados para diferentes públicos, que vão desde um percurso de acesso universal - pode até ser percorrido por pessoas com mobilidade reduzida - até à Grande Rota da Mourela (62 quilómetros).
SONS DO CÉU
Por esta altura do ano, percorrer as cores do vestido do Planalto da Mourela (amarelo, lilás e verde) é ir ao encontro de diversas espécies de aves que são raras no resto do território português. Não é difícil dar de caras, entre Pitões das Júnias e Tourém, com os picanços-de-dorso-ruivo, a laverca, a petinha-das-árvores, a alvéola-amarela, a ferreirinha-comum, o melro-das-rochas, a sombria e ainda outras espécies mais vulgares, como o cartaxo-comum, a gralha-preta e o pintarroxo. Se avançarmos para Tourém, podemos encontrar a rola-brava, o andorinhão-preto e o papa-amoras.
Do lado sul do Planalto da Mourela, merece também uma visita a estrada para Pitões das Júnias. Ao longo deste troço é possível encontrar paisagem agrícola em mosaico, sendo este um dos melhores locais para observar a rara escrevedeira-amarela. Outras espécies que aqui podem ser vistas incluem a rola-brava, a cotovia-arbórea, o picanço-de-dorso-ruivo e o trigueirão.
Coordenadas - 41°50'32.1"N 7°55'17.6"W
Comments