Consórcio europeu do grafeno vai gerar 81 mil empregos até 2030 com a participação da Universidade do Minho.
O Graphene Flagship – um dos maiores projetos científicos de sempre da UE, com a participação da Universidade do Minho desde o início – deve gerar, até 2030, 81.600 empregos (38.400 deles na Europa) e 5.9 mil milhões de euros em valor acrescentado bruto no mercado dos materiais bidimensionais, como o grafeno. Os dados são de um estudo do instituto alemão WifOR, apresentado ontem no congresso que findou os dez anos do projeto, em Gotemburgo, Suécia.
Do laboratório para a sociedade, o Graphene Flagship originou 106 novos produtos, 17 empresas spin-off, 346 pedidos de patentes e 4900 publicações científicas. Este consórcio contou com mil milhões de euros de investimento e aliou 170 academias e empresas de 22 países. Em Portugal, envolveu nomeadamente as universidades do Minho, Porto, Aveiro e Lisboa, o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL) e as empresas Graphenest, Glexyz e Sphere Ultrafast Photonics.
A meta foi colocar a Europa na vanguarda da área e facilitar a comercialização do grafeno. Este material tem a espessura de um só átomo de carbono, sendo muito leve, flexível, condutor e resistente. Obtido de cristais de grafite em 2004, também presentes na ponta de um lápis, e alvo do Nobel da Física em 2010, vai ser aplicado na próxima geração tecnológica, desde os transportes à biomedicina, eletrónica, energia e exploração espacial.
Na Graphene Week em Gotemburgo, por exemplo, apresentou-se um carro desportivo feito com compósitos de grafeno, um filtro para contaminantes na água à base de fibras ocas de grafeno, um tubo com sensores para detetar incêndios e ruturas, bem como painéis solares de células formadas por perovskita (mineral) e grafeno, sendo os mais eficientes neste âmbito. Há ainda avanços na remoção de gelo de asas de aeronaves da Airbus, num purificador do ar interior de aviões da Lufthansa e em disjuntores de quadros de distribuição da sueca ABB. Como o grafeno é macio e maleável, pode até ser usado em elétrodos implantados no cérebro para tratar tremores em pacientes com Parkinson, sem causar cicatrizes.
“Face à média de projetos apoiados pela UE, temos sete vezes mais publicações, 13 vezes mais patentes por euro investido e retorno económico quase 15 vezes superior ao investimento direto da Comissão Europeia”, disse o coordenador, Jari Kinaret, da Universidade Tecnológica de Chalmers, Suécia. Desde 2013, passou-se de flocos de grafeno com a milésima parte do milímetro para a produção em escala de bolachas semicondutoras (wafers) com 300 milímetros. O grafeno é um dos 6000 materiais 2D conhecidos, abrindo horizontes à academia e à indústria.
O que tem feito a Universidade do Minho?
Os estudos teóricos nesta área em Portugal começaram com Nuno Peres, professor catedrático do Departamento/Centro de Física da Escola de Ciências da UMinho, que colaborou com várias instituições internacionais em projetos de vanguarda. Os resultados foram publicados em revistas como “Reviews of Modern Physics”, “Science” e “Nature”, mostrando pela primeira vez como a luz interage com o grafeno ou como guiar radiação infravermelha num guia de ondas com a espessura de um átomo, por exemplo. O investigador foca-se agora em trabalhos de fotónica e nas propriedades óticas de semicondutores e magnéticas de sistemas magnéticos bidimensionais.
Em termos mais práticos, destaca-se no país a empresa Graphenest, do distrito de Aveiro, que criou o caiaque mais leve do mundo, um biopolímero para tratar lesões medulares e materiais para blindar a radiação eletromagnética. Fabrica condutores baseados em grafeno e obteve este ano 1.8 milhões de euros numa ronda de financiamento. Já o INL e a UMinho têm feito desenvolvimentos com grafeno num nanodispositivo para entender melhor o cérebro, num detetor portátil de doenças infeciosas, em biossensores para a deteção precoce de isquemia (falta de sangue no organismo) e numa roupa com proteção química, térmica e elétrica.
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