Uma equipa de investigação do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa e da Universidade de Coimbra adaptaram e validaram a versão Portuguesa do Questionário de Competências Sociais e Emocionais para crianças e jovens. Esta ferramenta pode ser utilizada por profissionais das áreas educativas e comunitárias para monitorizar o desenvolvimento dessas competências.
“Desde tenra idade, as pessoas desenvolvem as suas competências sociais e emocionais através de um processo designado por aprendizagem socio-emocional”, explica a primeira autora desta investigação, Catarina Castro, aluna do Doutoramento em Psicologia do Iscte. Através deste processo, a criança adquire conhecimentos, atitudes e capacidades cruciais para gerir as suas emoções e relações interpessoais, incluindo sentir e mostrar empatia pelos outros, e tomar decisões responsáveis.
As competências sociais e emocionais de crianças e adolescentes têm vindo a ganhar importância em contextos educativos e comunitários, nomeadamente nas competências esperadas dos alunos portugueses à saída da escolaridade obrigatória. Tendo em conta esta prioridade na política pública, a Fundação Calouste Gulbenkian co-fundou as Academias Gulbenkian do Conhecimento, um conjunto de projetos de base comunitária ou escolar para desenvolver e apoiar soluções inovadoras para problemas societais complexos, incluindo o desenvolvimento de competências sociais e emocionais de crianças e jovens. Estas Academias constituíram a oportunidade perfeita para explorar o desenvolvimento de tais competências.
O estudo recentemente publicado na Frontiers in Psychology teve como objetivo validar a versão portuguesa do instrumento para que os profissionais em Portugal possam utilizar instrumentos baseados em evidências na sua prática. Muitas vezes, alguns destes instrumentos não estão disponíveis em diferentes línguas e podem estar sujeitos a diferenças culturais e contextuais. “É importante que os profissionais disponham de instrumentos de avaliação e intervenção cientificamente validados e adaptados à população com que trabalham. Aqui, fizemos isso mesmo”, salientou Joana Alexandre, investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) e orientadora de Catarina Castro.
“O Questionário de Competências Sociais e Emocionais, nomeadamente a sua forma Crianças/Jovens, foi desenvolvido como uma medida abrangente para um conjunto alargado de competências sociais e emocionais, ancorada num quadro teórico comum e sólido”, afirma Clara Barata, segunda autora do estudo e investigadora da Universidade de Coimbra. O instrumento foi aplicado aos participantes das Academias Gulbenkian do Conhecimento e, de acordo com os resultados do estudo, a sua adaptação portuguesa revelou-se bem ajustada à utilização no contexto português. Para os peritos, as análises revelaram uma boa consistência interna e sensibilidade à mudança ao longo do tempo. Com base nos resultados do estudo, Carla Colaço, última autora do artigo, afirma que “sugerimos que as intervenções de aprendizagem social e emocional devem ter uma abordagem culturalmente reativa”. Os resultados sugerem ainda que a idade é uma das características individuais mais relevantes para o impacto das competências sociais e emocionais.
Os resultados do estudo contribuem para demonstrar a utilidade desta medida para os profissionais das áreas educativas e comunitárias, para informar e orientar os seus trabalhos sobre competências sociais e emocionais com um conjunto variado de participantes, medindo adequadamente as suas necessidades e os seus pontos fortes.
“Os nossos resultados têm o potencial de informar e melhorar as intervenções de aprendizagem social e emocional em contextos educativos e comunitários, beneficiando, em última análise, crianças e jovens em todo o país”, conclui Catarina Castro.
A aprendizagem socio-emocional tem sido um interesse de investigação da investigadora do CIS-Iscte Joana Alexandre, que tem trabalhado com equipas multidisciplinares. Recentemente, a investigadora colaborou num estudoque testou o programa socio-emocional “Mundo Intergaláctico”, desenvolvido para reduzir sintomas psicopatológicos e melhorar competências sociais e emocionais em crianças dos 8 aos 12 anos. “Embora sem grupo de controlo, professores e cuidadores reportaram uma redução de comportamentos de internalização e externalização em crianças, demonstrando o potencial do treino de competências socio-emocionais através de programas como este”, explica Joana Alexandre, salientando a necessidade de recorrer ao controlo através de ensaios randomizados em futuras investigações.
Rita Antunes (Universidade Lusíada de Lisboa; Hospital CUF Descobertas; WJCR-Ispa), Maryse Guedes (WJCR-Ispa), Marisa G. Filipe (Universidade de Lisboa) e Manuela Veríssimo (Iscte) foram as outras investigadoras envolvidas.
Comunicação de Ciência (CIS-Iscte)
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