Nos próximos seis meses a barragem de Paradela - concelho de Montalegre - vai receber obras de requalificação num valor que ultrapassa os quatro milhões de euros. Esvaziada pela última vez em 1980, a EDP promete que o investimento na albufeira fique concluído antes do fim do ano. A operação - explicada numa sessão pública ocorrida na sede da junta de freguesia - irá envolver mais de uma centena de trabalhadores.
A barragem de Paradela - uma das mais emblemáticas albufeiras do concelho de Montalegre - vai sofrer obras de requalificação ao longo dos próximos meses. Tudo porque tem evidenciado infiltrações crescentes com o tempo através do corpo da barragem e que afloram no leito do rio a jusante, em local onde é possível efetuar a respetiva medição do volume total dos caudais drenados e infiltrados. Neste sentido, a EDP decidiu proceder a um conjunto de obras que ultrapassam os quatro milhões de euros que visam impermeabilizar o paramento de montante.
Com 110 metros de altura acima da fundação no leito do rio, a barragem de Paradela foi construída entre 1955 e 1958, após a conclusão dos escalões de Venda Nova, Salamonde e Caniçada entre 1946 e 1955. Constituí, por via disso, o quarto escalão do aproveitamento hidroelétrico dos rios Cávado e Rabagão. O primeiro enchimento da albufeira até à cota (738,80) ficou concluído em julho de 1958. O projeto - da autoria da Hidroelétrica do Cávado (HICA), uma das empresas que esteve na origem da EDP - foi inspirado no da barragem de Salt Springs, com 100 metros de altura, construída entre 1928 e 1931, na Califórnia, Estados Unidos. REPARAÇÕES EFETUADAS
Como já aqui foi sublinhado, a última vez que a barragem de Paradela foi esvaziada foi em 1980. Porém, a história desta albufeira já conta com algumas reparações: 1958, 1959, 1962, 1965 e 1971. Com efeito, desde o fim do primeiro enchimento, realizado em julho de 1958, que se observaram caudais significativos a jusante. Esses caudais chegaram a atingir cerca de 400l/s (24.000l/min). Tendo como objetivo detetar a causa desses caudais anómalos, em meados de outubro desse ano, procedeu-se ao esvaziamento da albufeira para observação onde foi possível concluir que os deslocamentos absolutos foram relativamente elevados em algumas zonas. Foram verificadas que as anomalias ocorriam a cotas baixas o que provocou sucessivas reparações entre 1958 e 1971. Porém, a grande intervenção e última aconteceu em 1980. Dado o aumento contínuo dos caudais infiltrados - atingiu valores nunca antes registados - foi aplicada uma membrana de impermeabilização designada Cesacryl, trabalhos no maciço de fundação e aberturas de drenos e piezómetros para monitorização do comportamento hidráulico da fundação, bem como à injeção das juntas da galeria do muro corta-águas com resinas epóxi. A reparação teve um alto grau de sucesso. Após 1980, foram levadas a cabo diversas inspeções e reparações pontuais assim como campanhas de investigação para deteção da origem das infiltrações que, decorridas menos de 10 anos, já originavam caudais infiltrados de valor relevante. Assim sendo, em 1982 reparou-se a junta J20, tendo-se reduzido os caudais infiltrados para valores aceitáveis que se mantiveram até 1987. Entre abril de 1987 e fevereiro de 1988, os caudais aumentaram sucessivamente, havendo sempre uma relação direta entre as cotas da albufeira e os caudais infiltrados. Entre 1993 e 1996 foram realizadas diversas inspeções com vista à deteção das infiltrações, as quais iam crescendo com o tempo. Na última inspeção de 1996, dada a cota a que a albufeira se encontrava, foi possível identificar algumas patologias na cortina de betão e nas respetivas juntas, sendo que todas elas, exceto uma, se encontravam abaixo da cota 691,00, assim como se identificou a existência de depósitos inorgânicos no fundo do vale. Estas zonas foram objeto de tentativas de reparação ainda em 1997 e mais tarde em 2008, cuja manutenção se revelou insuficiente.
SOLUÇÃO ENCONTRADA
Face ao quadro descrito, a EDP decidiu realizar uma intervenção de impermeabilização semelhante à que foi efetuada em 1980 que, na época, demonstrou um sucesso imediato, embora com limitações de durabilidade em face da tecnologia utilizada na altura. A membrana de impermeabilização agora a ser aplicada - será feita sobre a cortina de betão existente e cuja selagem inferior deverá ser materializada sobre a face superior do muro corta águas - consiste na aplicação de uma geomembrana não aderente em PVC com uma espessura mínima de 3,0mm acoplada, no seu fabrico, a um geotêxtil de, pelo menos, 500 g/m2, designada por geomembrana com caraterísticas técnicas mínimas indicadas. A par destas caraterísticas, deverá apresentar resistência ao ataque químico e biológico, ultravioletas (UV), elevadas e baixas temperaturas, abrasão, impacto e punção. A durabilidade não deverá ser inferior a 50 anos.
David Teixeira, vice-presidente da Câmara de Montalegre salienta que
«Vai ser mais um grande investimento no concelho durante os próximos meses. São quatro milhões de euros para a segurança das pessoas. Temos alguma expetativa que possam trazer retorno económico a esta população que perde o seu espelho de água, a sua expetativa turística porque ficam com um vazio durante esta época estival. A segurança desta travessia é essencial. Esta sessão já devia ter acontecido. Foi muito esclarecedora em relação às questões ambientais e de circulação. É importante este respeito pela população que, nos próximos meses, vão contar com mais de uma centena de pessoas que alterará o seu ritmo diário. Temos que minimizar este impacto ao máximo. O município tudo fará para que esta intervenção possa reverter beneficiosa para a população com emprego e dinamização para a economia». Já Armando Camelo do departamento de barragens da EDP afirma que
«Vamos fazer a reparação de fugas de água no corpo da barragem e que são já de dimensões razoáveis. Poderão pôr em causa a exploração da barragem, mas, também, está em causa a segurança em caso de rotura dos orifícios. Essa intervenção consiste na colocação de uma membrana que evite que os caudais que estão a passar para jusante sejam tão elevados. Para isso, vamos ter que esvaziar a albufeira e isso tem alguns impactos que nós vamos ter em conta. Tem que ser nesta época devido ao facto de existir menos água. Vamos descer a albufeira para a cota prevista procurando minimizar todos os efeitos que isso possa trazer». Joaquim Moura, Presidente da União de Freguesias de Paradela, Contim e Fiães diz que «a obra foi muito bem explicada e penso que vai correr tudo bem. O principal problema será a proteção das espécies de peixe existentes. Confiamos no que foi dito para que se proteja. É uma zona de pesca das mais procuradas. No entanto, percebemos que as obras têm que ser feitas e que farão o possível para que haja os menores danos possíveis».